terça-feira, 6 de novembro de 2007


PROJETO ABEL
CAPÍTULO 6

Caça-Ratos ( Final)

Local : Covil da Ratazana Hora : 16 : 00 Situação : Visita


Abel marcha solene com o corpo do ratinho amarelo nos braços. Abel ainda luta contra a concussão. A escuridão do lugar atrapalha os já debilitados sentidos de Abel. Mas Abel já se acostumou a viver no Caos e prossegue. Ao contrário do que pensam, os ratos não vivem nos esgotos. Em verdade, o Pedaço do Inferno é o grande esgoto. O covil, por sua vez, é uma coisa ainda mais sombria. Um limbo assustar onde transitam os Ratos e o próprio Ratazana. Abel é um corpo estranho dentro desse refúgio, contudo, ele não precisa se esconder. Desde que seu primeiro passo reverberou nas fétidas águas do covil a Ratazana já sentira sua presença. Os Ratos espreitam e correm fazendo grunhidos. Abel não os teme. Apesar de quase todos os ratos roerem de vontade de uma vingança contra seu implacável caçador, Abel esta protegido pelo seu “status” de Chefe de estado. Como um rei que visita o outro e traz em seus braços um presente ao anfitrião. A Ratazana finalmente revela-se. Gorda, fétida, cercada de Putas-Ratas e Viciados-Ratos. Abel larga ao chão o Corpo do Ratinho amarelo e tem início o diálogo: “O que deu errado Ratazana?” “Não era eu o tutor caçador”. Abel reindaga: “E quem o era?” “Não acredite nas lendas seculares caçador, até inimigos ancestrais forjam alianças em tempos difíceis”... Abel estremece com essa resposta, mas fazia sentido... Antes de ir Abel faz a última pergunta a Ratazana: “Estás pronto para resistir Ratazana?” O monstruoso ser exita. A Ratazana solta um grito que estremece todo o lugar, se inclina na direção de Abel e responde finalmente: “O caçador já deveria saber que os animais dessa Pocilga foram feitos para durar.” Abel parte. Os ratos não se atrevem a tocá-lo ( apesar de desejarem e muito). É o fim desta caçada. Abel sai do Covil e já é Por de Sol. O céu está vermelho... Vermelho Sangue. Perfeito cenário para o prenúncio de um combate sem precedentes. Uma guerra Para além de maniqueísmos na qual, perigosamente, o caçador parece não ter um lado definido... Abel treme. Frio da noite que chega ou medo do cheiro de morte vindoura?

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CAPÍTULO 5

Caça-Ratos ( Parte 2)

Local : Nordeste Hora : 14 : 00 Situação : Ativo

...Precisa ser rápido. Abel crava a faca no frágil reboco de uma das inúmeras habitações e salta preso a corda como num pêndulo. Abel aprendeu esse movimento em um filme muito antigo. Lembrança estúpida em hora crítica. Abel prepara para agarrar o pretinho chorão. O moleque é como uma tripa, não será difícil... “Merda!” Suor. O moleque escorrega e Abel perde tempo. Precioso tempo. Abel empurra o subnutrido e é atingido. A viatura o acerta em cheio. Os cães sentem a batida, mas ignoram. É normal os cães atropelarem outros animais por aqui. Abel desperta com o pivete ainda chorando nos braços de uma preta descuidada. Abel paga seu descuido com sangue. “Hn”, metade do dia e Abel já sangra como uma putinha de 13 anos nas primeiras regras. Abel se obriga não desmaiar de novo... Estampidos! O bendito e barulhento 38 indica uma direção. “Levanta desgraçado”. O Sol também não ajuda... Abel demora chegar ao local dos tiros. Mas antes de chegar, as dores diminuem até cessar no desfalecer do corpo. Desmaiou... “Unf” Quanto tempo levou? Bem, não o suficiente para os urubus reclamarem sua carcaça, indicando que não foi dessa vez, ou então, suas carnes valem menos do que imaginava. Abel ouve um gemido. Cambaleante presencia uma típica queima de arquivo. A vítima se debate sendo saboreada com desejo pelos seus algozes. Abel não está em condições de enfrentar os cães agora. Espera os desgraçados terminarem e depois confere o que restou do animal abatido... Como imaginava Abel. O Ratinho Amarelo cravejado de chumbo. O infeliz resiste ao iminente fim. Abel estranha apesar de sobreviver ser excelência de bichos como o amarelado rato. O Rato vive nos esgotos e sabe que da mesma maneira como esmaga baratas, alguém irá lhe esmagar um dia. Basta que cometa um único erro. Ah, e esse Ratinho safado cometera vários erros! Ainda assim ele resistiu mais que o normal. “Pense como Rato Abel”. Ele não esperava ser pego hoje. Algo saiu do controle. O amarelado poderia ter mais que informação de valioso para mais alguém além do próprio Abel? Estas divagações só trazem mais dúvidas. Hora de buscar respostas direto no topo da cadeia Hierárquica dos roedores. Abel leva o corpo do Ratinho para o covil da Ratazana.

Continua...

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CAPÍTULO 4

Caça Ratos ( Parte 1 )

Local: Em Trânsito Hora: 12 : 30 Situação :Investigando

Esta cidade não precisava ser tão quente para parecer o inferno. O fogo desce e torna em cinzas aquelas que por último morrem. Abel tem seguido ratos esta semana. Contudo, precisa mudar sua tática. Percebeu que a cada Camundongo que fica pra trás, uma ratazana segue em seu caminho. Os ratos vendem o pó de giz. O maldito pó de giz é o alimento de muitas das caças de Abel. Num mundo de Gaviões como o pedaço do inferno, qualquer subterfúgio vira uma benção nas ruas. O outro fogo lhe sobe. Ódio. Abel imagina o velho Demônio esquadrinhando por entre os vitrais a decadência do pedaço do inferno. Quase pode ouvir as gargalhadas do Demônio se embriagando com o sangue da bicha Cristã. Não! Abel precisa de concentração. A obsessão pelo velho é sua motriz, mas rouba sua atenção que no momento precisa ser focada no Ratinho Amarelo. Um desgraçado, catarrento de metro e meio. Abel sabe que ele é do tipo insignificante ( engano). Abel também já foi insignificante um dia. Sabe que a transformação de caça em caçador é uma linha tênue... Basta de Filosofias. Abel persegue o Ratinho amarelo até o Nordeste. “Aqui é mais inferno que qualquer outro lugar”. A constante zona de Guerra faz do Nordeste um prenúncio do Apocalipse. Muito hábil o ratinho some. Nem sinal... Enquanto procura alguma pista dele Abel observa de sua tocaia os pretinhos descamisados, suados, a jogar pelos cantos. Subalternas de todas as cores gritando com sua prole. Até sua repetitiva e caótica melodia Abel aprendeu a suportar. “Hn”. No meio da orgia de sentidos e sons um deles ressalta. A estridente sirene da viatura dos cães em alta velocidade. Merda. Um pretinho chorando no meio da rua. A genitora não o viu (se é que existe uma). A viatura avança para despedaçar o pivete subnutrido. Ninguém o percebe, estão todos acostumados. Se não bancar o herói em poucos segundos Abel sabe que a vala comum vai ganhar novo morador. Abel age!

Continua...


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CAPÍTULO 3
Lugar Comum

Local: Refúgio Hora: 12: 00 Situação: Avaliando


Abel questiona. Por que e para que tudo isto? Sentado em banco velho e estreito,
Tateia o livro em braile. Mal lê com as pontas dos dedos... As feridas vão se curando tão velozmente quanto o raciocínio o empurra para o abismo. “Porque”? Mas sua pergunta muda reverbera solitária nas paredes úmidas do velho refúgio. Nem os heróis das capas de revistas em quadrinho, coladas pelos cantos, ousam responder a Abel. Sua jornada é solitária e cada vez mais enigmaticamente triste... Abel concentra energia no som involuntário que sai de sua barriga faminta. “Hn”... Abel é semelhante aos animais do pedaço do inferno. Todos sob o julgo do preconceito/descrença do resto dos monstros de paletó. Enquanto Abel e os animais que defende, se esgueiram no “lugar comum”, outros mais abonados têm a sorte de viver aliados as benesses e oportunidades. “Sorte”? Abel sabe que não é tratar de sorte esta questão. Sabe Abel que os asseclas e afilhados do Velho Demônio transitam em outra realidade, um outro mundo provido de colorido, bem diferente do limbo espectral que é o seu pedaço de inferno. É fácil para os bichos Grilos-Engravatados dos muros e grades de seus protegidos burgos, depreciarem os desprovidos defendidos por Abel. Porque mesmo tudo isso Abel? Por quê? Talvez para que um dia o mundo de arco-íris e o de pretos sujos, em amálgama, torne em um meio termo, um meio tom aquarelado. Quereria Abel acreditar nisso. Quereria que teus pés não estivessem envoltos em tanta merda suja e fedorenta. Quereria Abel não sentir que suas ações são como morphina a um ainda incrédulo defunto.



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Capítulo2
A Preta-Puta

Local : Grande Feira e arredores Hora : 4 e 30 Situação :Reviravolta


”Que cheiro é este?”... Perfume vagabundo de Puta... ”Mas quem?”... (Ela surge)...Abel não houve os cães(eles também sentiram)...Do fundo do vão Abel vê o cheiro tomar forma.Uma preta.Olhos azuis,”Black Power” e boca vermelha.(De onde saira aquela preta-puta?)Acende um cigarro.(Mulher estúpida).Os cães a vêem.Avançam rápido.Mais um cadáver pensa Abel.Mas não...Os cães param hipnotizados...devagar começam a dança do cercar a caça.Os três.Abel já havia visto a tal dança mas nunca como desse jeito.De tão desnorteados os cães nem percebem Abel agachado próximo.Babam em cima da Preta-Puta que continua impassível a tragar seu “Derby”...Até que ela se move...Desata um laço e o velho vestido surrado vai ao chão.Os cães não hesitam mais.O primeiro avança sobre a buceta da Preta(de certo atraído pelo mal cheiro familiar).O segundo morde sua bunda grande e carnuda.O terceiro ameaça morder sua jugular num instintivo ato, mas para nos fartos seios pretos.A preta já parece se aproximar do gozo quando vira a cabeça e olha fixamente para Abel.O fogo lhe invade.”HN”.Agora Abel sabe quem é a Preta-Puta.Aquela não era uma caça...e embora os cães fossem exímios caçadores,desta vez caíram em armadilha.Tudo é muito rápido.A Preta cospe uma navalha e degola o que lhe sorvia os seios.De coice de pé direito enfia o salto na cabeça daquele que lhe lambia o cú.Faltava apenas o da Buceta.O cão tenta reagir e salta para trás.(perfeito).Abel lépido pula das trevas do seu “abrigo” improvisado e pronto.O último cão já não é mais problema...Sobraram então um cansado Abel e a Preta-Puta,nua e cheia de baba dos cães.Ela oferece um cigarro a Abel.O balançar de cabeça negativo de Abel é a senha para a Preta sumir pelas lacunas da Grande Feira...”CÉRBEROS”.O Chefe Porco Grita.”HR”.Abel esquecera do Porco.Tempo estranho esse que vivia Abel.No passado isso jamais aconteceria.
Abel só não de todo triste por que hoje uma Puta lembrou de que barro ele é feito.
O chefe Porco poderia estar caçando Abel por hora, mas isso iria mudar!Abel pula para um telhado. E se delicia com a confusão do Chefe Porco entre corpos,sangue e odores dos mais estranhos...Impossível de rastrear Abel agora.E quando começa a amanhecer Abel sente a preocupação do Porco que terá de prestar relatório.
Sim existe alguém acima do Chefe Porco. Assim como têm alguém acima de quem está acima do Suíno. De Ferimento estancado Abel caminha até o refúgio atormentado pela mesma visão de sempre. Seu foco Perene. A sua busca. Aquele a quem destronar. O Ancião que Comanda as Massas... (Continua)



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Capítulo 1
Caça e Caçador

Local: Grande Feira Hora: 3: 30 am Situação: Caçado!

Abel corre há muito tempo. Abel ofegante a mais de 2 horas. A chuva engrossou há pouco. As vielas estreitas e escuras da grande feira fedem a mijo. De canto de olho... Um cadáver! Na esquina. Abel para... ”5 metros?”... ”Sim!”. O Porco lhe perseguira por meia cidade, parar agora, ainda que por segundos, seria fatal... Mas aquele corpo... “Algo de familiar nele”. Um passo e um metro a menos, outro passo e menos um... Revela-se a silhueta. Um preto! Abel nunca o havia visto... Sem tempo! Um estampido. Algo quente... Sangue! Escorrendo pelas costas. ”Maldito Chefe Porco, mais rápido do que nunca”. Abel volta a correr, mas sabe que agora é uma questão de tempo. Sabe que o sangue o irá denunciar nem adiantando estancar, basta o odor para os cães... Caído de joelhos, Abel improvisa um torniquete com um pedaço da camisa. A poça de sangue atrasará aos cães. Os malditos vão tomar um “Drink” antes de acabar com Abel.O pretinho...agora Abel, ”As vielas da Grande Feira tornarão em cemitério findado esta noite”. Abel dobra uma esquina e despenca num dos incontáveis vãos do local. ”Escuro o suficiente”. Mas Abel sabe que algo que não pode ser visto pode ser sentido... ”HN”... Pensara como caçador e não como caça pela primeira vez este dia. Fazia tempo Abel não vivia como caça. Parecia ter esquecido outrora ter sido caçado como hoje. ”Mentira Suculenta”. Quem é caça nunca se esquece!Não esquece das lágrimas, do corpo dolorido, o anus ensangüentado... E como caça sabia que os cães iriam achá-lo. Só um milagre o salvaria. Mas Abel não conhecia o significado desta palavra... ”Uivo”... ”São três”... Intimamente Abel até os admirava. Assassinos cruéis, instintivos... Portando seus velhos trinta e oito cobreados, uniformes surrados de tom marrom... Famintos. Atacam suas vítimas como bons pedaços de carne que são. Nem adianta a caça argumentar. Os cães atacam sem piedade!Na jugular, tingindo-se de um vermelho ralo. Só depois olham os documentos da caça. Usam notas velhas de um ou dois reais para limpar os coturnos (uma mania estúpida do Chefe Porco que exige as “butinas” limpas). Ainda levam sobras para suas crias e fêmeas que vivem cativas em subúrbios do Pedaço do Inferno. ”Pena”. Sentiria Abel se de outro barro fosse moldado. Este sentir é fraqueza. E fraqueza é tudo o que os malditos querem esquadrinhar agora... A fraqueza de Abel... ”Não Há de ser tão fácil”. Não deixará que seja assim. Não será sua carcaça que o Porco exibirá amarrada no pára-choque da viatura pelas ruelas do Pedaço do Inferno, até deixar a cabeça oca no Gabinete do Anhanguera como um troféu. ”HN”... ”Que cheiro é este?”... Perfume vagabundo de Puta... ”Mas quem?”... (Ela surge)...Continua...